Dado um sistema
= A . x + B . u
y = C . x
sabemos como calcular sua matriz de transferência
H(s) a qual é H(s) = C (sI - A) -1B.
Vamos nos ocupar, nesta seção, do problema inverso, isto é, dada uma matriz de transferência H(s), calcular uma realização (A, B, C) da matriz de transferência, isto é, calcular A, B e C tal que
C(sI - A) - 1B = H(s)
(É claro que este problema tem solução somente se H(s) for estritamente própria)
Vejamos primeiramente o caso da realização de uma função de transferência, ou seja, o problema escalar.
Seja
(8)
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Vimos no capítulo 2o duas realizações de funções de transferência escalares.
A chamada "forma canônica" é
(10)
|
O aluno aplicado verificará, calculando, que (10) é de fato uma realização de (8): note-se que basta calcular os elementos da última coluna de adj (sI – Ac ), porque todos os elementos de B , menos o último, são nulos. E note-se que |sI – Ac| = s n + p n - 1 s n - 1 + … + p1 s + p0 .
A "forma canônica" é dual
de (10), a saber,
(11)
|
As matrizes Ac e Ao , correspondentes a (10) e (11), respectivamente, são chamadas matrizes companheiras.
Uma simulação de (10) em computador análogo é
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Na prática, tal simulação se revela muito sensitiva a variações de parâmetros e, por isso, não é usada. Ela tem função didática.
Já a simulação correspondente
de (11) é
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Vejamos agora os sistemas multivariáveis. Suponha que u e y tenham as dimensões usuais, isto é, u m, y p
Seja
(7)
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onde Qo, Q1, ..., Qn-1pxm e o denominador é um {po, p1, ..., pn-1 }
É fácil verificar que a seguinte
forma canônica controlável realiza a matriz de transferência
acima.
(12) |
Analogamente, a forma canônica observável
para sistemas multivariáveis é
(13) |
Agora, observe-se que a dimensão de (12), isto é, a ordem da matriz A em (12) é nm, enquanto que a dimensão de (13) é np.
É fácil provar (prove!) que (10) e (12) são efetivamente controláveis enquanto que (11) e (13) são observáveis.
Ora, (10) e (11) são realizações
de
(8 bis) |
Ora, se os 2 polinômios de (8) forem
coprimos, é claro que as realizações (10) e (11) são
mínimas no sentido que não existe outra realização
(A1 , B1 , C1 ) tal que a ordem de A1
seja
menor que n. Se isto ocorrer (i.e se os polinômios de (8) forem coprimos),
então a realização (10), além de ser controlável,
é também observável e a realização (11),
além de ser observável, é também controlável.
Mas se os polinômios de (8) não forem coprimos, então
a realização (10) não é observável,
enquanto que a realização (11) não é controlável.
Vamos explicar melhor isto e prover esta última afirmação
a seguir.
Definição:
Uma realização (A,B,C) de uma dada matriz de transferência H(s) é dita mínima se não existir outra realização de H(s) cuja dimensão seja menor.
Ou por outras palavras, dada H(s), a realização
(14) |
é dita mínima se não existir uma outra realização
tal que
É claro que as realizações mínimas de uma matriz de transferência tem interesse especial pois são realizadas fisicamente com menor número de componentes. É claro também que um no infinito de realizações mínimas, passando-se de uma para outra por meio de transformação de estado não-singular, i.e, se (14) é uma realização mínima, então,
também é, observando-se que = Q.x.
A seguir, nós temos o seguinte resultado
fundamental que, a esta altura já deve ter sido intuido pelo aluno
arguto, mas que agora vai ser demonstrado formalmente.
Teorema 4:
Uma realização (A,B,C) de uma matriz de transferência H(s) é mínima se só se for controlável e observável.
É claro que se (A, B, C) for uma realização mínima, então (QAQ - 1 , QB, CQ - 1 ) também será.
O teorema seguinte afirma algo mais:
Teorema 5:
Sejam duas realizações mínimas (A,B,C) e da mesma matriz de transferência H(s). Sejam x(t) e , respectivamente, seus vetores de estado. Então Q, não singular, e tal que = Q.x e, por consequinte,
A seguir, temos
Teorema 6:
Seja o sistema SIMO (single input-multiple
output)
(33) |
o qual é suposto controlável.
Existe uma transformação
de estado = Q.x que coloca
o sistema na forma canônica controlável, isto é,
(34) |
onde Ac e Bc tem a forma de (10).
A seguir, temos o dual do teorema anterior.
Teorema 6’:
Seja o sistema MISO (multiple-input, single
output)
(33) |
que suporemos observável.
Então
uma transformação de estado
= Q.x que coloca o sistema na forma canônica observável, isto
é,
(34) |
onde Ac e Cc são definidos em (11).
A prova deste teorema é análoga à do teorema anterior. Vimos que para sistemas multivariáveis, obtivemos as realizações (12) e (13) que são formas canônicas controláveis e observáveis respectivamente. Como foi dito, aquelas realizações têm como ordem muito grande se m >> 1, p >> 1, respectivamente, isto é, têm ordem muito maior (nm e np, respectivamente) que a ordem da realização mínima (n era o grau do polinômio do denominador de H(s)). Mas obtida uma realização na forma canônica controlável sempre podemos obter uma realização mínima decompondo o sistema nos sub-sistemas observável e não-observável, de acordo com o teorema (3’) da seção anterior. É claro que o sub-sistema observável, sendo também controlável, é uma realização mínima. Ou então, obtida uma realização na forma canônica observável (13), decompomo-la nos sub-sistemas controlável e incontrolável, aplicando o teorema (3) da seção anterior. O sub-sistema controlável, sendo também observável, é uma realização mínima. Vejamos um exemplo.