A presente tese tem por objetivo estudar a construção discursiva de um lugar-escola no contexto de uma instituição municipal de ensino localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro. Paralelamente, são realizadas discussões sobre os conceitos de identidade, lugar e ficção a fim de evidenciar como sua imbricação pode contribuir para avanços na pesquisa qualitativa. O trabalho de inspiração etnográfica conta com dados gerados ao longo dos anos de 2015 e 2016 com a participação de estudantes com idades entre 14 e 17 anos. A análise encontra-se dividida em três seções contemplando três tipos de dados. A primeira compreende textos de inspiração etnográfica escritos pelos alunos e analisados segundo a noção antropológica de lugar; a segunda traz fotografias etnográficas e trechos de conversas com os alunos-fotógrafos com foco em questões identitárias emergentes; por fim, narrativas ficcionais autorais ambientadas na escola são analisadas visando a evidenciar as possíveis contribuições desse tipo de produção imaginativa para a pesquisa qualitativa. Todo embasamento teórico e análise foram interdisciplinarmente construídos à luz de teorias pós-estruturalistas dos estudos da linguagem, da filosofia e da antropologia. A análise evidenciou a concretude pragmática da construção discursiva do lugar-escola e sua influência nas relações do cotidiano escolar. Além disso, esta tese, em conteúdo e forma, traz o discurso como profícua arena apaziguadora da dicotomia real (lido como verdade) e ficção (lida como farsa). As observações realizadas neste trabalho indicam que, entendida como lugar antropológico complexo, a escola ganha contornos e revela nuances caras ao trabalho em educação, tanto do ponto de vista pedagógico quanto político. Finalmente, apontam para a necessidade de um maior investimento em um real diálogo entre diferentes áreas das ciências humanas como meio para fortalecer e democratizar o conhecimento produzido nas pesquisas qualitativas.