A escassez de intérpretes de conferências negras, negros e negres no mercado brasileiro é um tema premente, ainda que invisibilizado no dia a dia do exercício do ofício, nos cursos de formação e também nos Estudos da Interpretação. Considerando as estruturas e agências que regem as relações econômicas e sociais na sociedade brasileira e que perpetuam o racismo estrutural e institucional, apresentamos neste artigo a história da (negação da) oportunidade de aquisição de línguas estrangeiras pela população negra brasileira e depoimentos de intérpretes negros com o objetivo de identificar quais impedimentos históricos ao acesso à plena escolarização refletem a estratificação racial da sociedade. Preconceitos de cunho racial durante a entrada no mercado de trabalho são, para além de reflexos do racismo estrutural e institucional, também gargalos para a democratização da profissão de intérprete entre cidadãos afro-brasileiros.