A presente tese investiga a disputa da memória e as tensões de narrativas sobre a violência perpetrada pelo Estado e pelo colonialismo na América do Sul, com foco no cinema sul-americano. A pesquisa se concentra na obra dos cineastas Patricio Guzmán (Chile), Jonathan Perel (Argentina), Paz Encina (Paraguai) e Ana Vaz (Brasil), cada um utilizando uma estratégia de montagem específica. A interseção entre paisagem e arquivos cinematográficos é o ponto central, analisando como a montagem desses elementos contribui para a construção de sentido nos documentários. Partimos da hipótese de que, ao colocar em tensão paisagem e arquivo, ela [paisagem] é território, transcendendo a função de ornamento para se transformar em território, espaço resultante de diferentes processos, de disputas de poder e de projetos contraditórios. Desta forma, os cineastas, a partir de diferentes estratégias de montagem, podem ser capazes de transformar a paisagem em testemunha das diferentes temporalidades, fazendo emergir as camadas de geo-história contidas na paisagem, criando heterotopias. O estudo utiliza uma abordagem denominada arqueologia fílmica, que envolve a análise comparativa dos documentários a partir de três categorias principais: paisagem-arquivo, paisagem-monumento e paisagem-memória. A relevância da pesquisa se dá devido à constante disputa pela memória na América do Sul, exacerbada pelas recentes reviravoltas políticas na região. O estudo visa a contribuir para as pesquisas no campo da imagem ao focar na produção audiovisual contemporânea sul-americana pela chave da memória e a fortalecer os laços acadêmicos entre o Brasil e outros países da região.