Esta dissertação tem por objetivo pensar sobre a criança escorraçada como criança-problema no ponto de vista de Arthur Ramos e sua relação com a higiene mental, civilização, família e escola. Compreende o período de 1934 a 1939 tempo em que funcionou o Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (S.O.H.M.) do Instituto de Pesquisas Educacionais chefiado pelo médico, a convite de Anísio Teixeira, que era o Diretor do Departamento de Educação da Secretaria Geral de Educação e Cultura do Distrito Federal à época. Tinha como finalidade a organização de trabalhos de cunho preventivo e corretivo, atendendo e tratando os possíveis problemas psíquicos da criança no lar e na escola e suas dificuldades com a aprendizagem, atuando nas escolas públicas do ensino primário do Distrito Federal, mais precisamente, nas Escolas Experimentais. Foram utilizadas fontes documentais como os livros sobre o assunto, os impressos de vulgarização dirigidos aos professores e famílias, todos de autoria de Arthur Ramos, além de reportagens de jornais e revistas de grande circulação no País, inquéritos dirigidos às diretoras e professoras das Escolas Experimentais, correspondências, estudos realizados pelo médico, bem como as fichas de observação comportamental de alunos das referidas Escolas oriundas do S.O.H.M. Este estudo procura responder as seguintes questões: Qual a importância da psicanálise e da higiene mental escolar para a transformação da sociedade brasileira em sociedade civilizada? Quem era a criança escorraçada como criança-problema e como a higiene mental escolar através da psicanálise contribuiu no sentido de tentar modificar o comportamento desajustado e a dificuldade com a aprendizagem apresentados por elas? De que forma a higiene mental escolar buscou orientar família e escola em relação à criança escorraçada? Para efeito de reflexão, tomou-se por base a abordagem histórica desenvolvida através do entrelaçamento da análise dos citados documentos com o conteúdo bibliográfico, em uma perspectiva teórica baseada na concepção de Norbert Elias sobre o processo civilizatório, na visão de Sigmund Freud sobre as relações entre o indivíduo e o que ele denominou a “civilização” e a higiene mental como forma de tratar as neuroses em decorrência da civilização, buscando entender as concepções de Arthur Ramos sobre esses processos. Constatou-se que, para Ramos, a base para que o país fosse civilizado e preparado para o progresso estava no cuidado com a criança através da higiene mental escolar e preceitos da psicanálise, bem como nas orientações dedicadas à família e escola, a fim de esclarecer as consequências nefastas do escorraçamento infantil.