A ideologia nos ajuda a compreender as crenças das pessoas sobre fatos específicos. O negacionismo científico descreve o estado psicológico em que as justificativas que explicam posicionamentos ideológicos se tornam imunes a evidências. Evidências científicas e consensos da comunidade científica são negados ou distorcidos em nome de valores ou preferências ideológicas. Foi possível observar esse fenômeno durante a pandemia da COVID-19, que transcendeu as esferas sanitária, econômica e humanitária, trazendo igualmente à tona uma séria crise epistêmica. A epidemia de informação – e de desinformação - provocou a erosão da confiança na ciência e a busca de formas alternativas de conhecimento, fazendo com que afirmações de caráter ideológico e base factual precária se tornassem amplamente difundidas, facilitando a adesão a teorias conspiratórias e a ataques contra a ciência. Uma revisão da literatura científica e de documentos técnicos, históricos e jornalísticos foi realizada; mais especificamente, dos efeitos psicológicos, sociais e políticos provocados pela confusão epistêmica entre ciência e ideologia durante este período histórico no Brasil. Investigamos como o pensamento ideológico interfere na percepção factual e como a cognição humana é ideologicamente motivada, exercendo uma função protetora da identidade política e fazendo com que a ideologia política filtre as informações que corroboram nossas visões de mundo e negligencie aquelas que colocam nossas crenças em xeque. A presente tese é composta por quatro artigos teóricos que têm por objetivo analisar as relações entre ciência, ideologia, negacionismo científico, teorias conspiratórias, mentalidade conspiratória, pensamento ideológico e extremismo político.