O presente trabalho tem por objetivo refletir a respeito do uso das imagens técnicas integrado à pesquisa em ciências humanas, pretendendo, com isso, contribuir para um maior entendimento a respeito das implicações da presença cada vez mais constante dos meios tecnológicos no modo como a sociedade contemporânea vem se constituindo. O embasamento teórico tem como premissa a filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin (1895-1975), principalmente no que concerne aos conceitos dialogismo, exotopia e alteridade. A sua concepção de linguagem foi articulada a uma análise do modo de produção dos seguintes documentários brasileiros: Edifício Master (2002), O fim e o princípio (2005), ambos de Eduardo Coutinho, e Santiago (2008) de João Moreira Salles. O principal aspecto que aproxima os documentários à produção de uma linguagem própria de pesquisa em ciências humanas é a postura de assumir a presença da câmera como uma mediação que atua e mobiliza tensões que re-significam a relação do pesquisador e seu outro. Neste sentido, o uso da câmera tem sido problematizado como parte integrante de dois momentos distintos da prática de pesquisa, quais sejam: primeiro, enquanto mediação técnica que interfere no próprio campo, no momento de realização da pesquisa; segundo, quando ao editar as imagens o pesquisador produz uma narrativa cuja intenção é divulgar os resultados da pesquisa a partir da produção de um vídeo-documentário.