A pandemia de COVID-19 aumentou as desigualdades em quase todos os aspectos da vida humana: acesso à saúde, educação, empregos, renda e tecnologias como vacinas ou recursos digitais. Populações socialmente vulneráveis foram significativamente afetadas pela pandemia, refletindo em taxas mais altas de COVID-19, aumento da pobreza e insegurança alimentar. Foi elaborado um desenho comparativo de avaliação antes e depois de março de 2020 a abril de 2021 na comunidade Complexo da Maré, uma grande favela no Rio de Janeiro, Brasil. O presente artigo objetiva analisar o impacto de uma intervenção multicomponente que combina estratégias de engajamento comunitário, vigilância, testagem e telesaúde para detectar casos e reduzir a mortalidade por COVID-19. Realizou-se uma dupla análise para estimar o efeito da intervenção na progressão de casos e óbitos na Maré. Primeiramente, foram comparadas as taxas de COVID-19 relatadas na Maré, o grupo de intervenção, e nas três comunidades no Rio de Janeiro conjuntamente, o grupo de controle - Rocinha, Cidade de Deus e Mangueira. Em segundo lugar, realizou-se uma análise Diferença em Diferença (DID). Antes da intervenção, a Maré apresentava taxas de casos de COVID-19 menores do que o grupo controle e o município do Rio de Janeiro. Embora o número de óbitos notificados na Maré tenha sido comparável ao do grupo controle, a Maré apresentou uma maior letalidade no período anterior. Após o início da intervenção, os casos notificados na Maré foram duas vezes maiores que o grupo controle e o município. Por outro lado, as taxas de mortalidade relatadas diminuíram pela metade na Maré após a intervenção (-60 por cento), enquanto a redução da taxa foi significativamente menor no grupo controle (-28 por cento). Considerando o efeito da intervenção em relação ao grupo controle, observamos um aumento dos casos notificados por semana (26 por cento, IC 95 por cento: 24 por cento-27 por cento) e uma diminuição das taxas de óbitos notificados por semana (-48 por cento, IC de 95 por cento: 46 por cento-50 por cento). Em conclusão, o modelo integrado de vigilância sanitária para apoiar as favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia foi considerado capaz de prevenir e controlar a transmissão do vírus. Nesse sentido, a iniciativa contribuiu para garantir proteção social a uma população vulnerável e desenvolver mecanismos eficazes de prevenção.