Em um contexto de profundas transformações nas relações de trabalho causadas pela tecnologia, milhares de entregadores se movimentam pelas ruas brasileiras entregando comida e outros itens sob o comando de plataformas digitais. Essa modalidade de trabalho, em ascensão nos últimos anos, tem sido alvo do interesse de pesquisadores em função das peculiaridades que a caracterizam. Um aspecto relevante a ser estudado diz respeito ao controle sobre esse tipo de trabalho. Nesta direção, a presente dissertação buscou entender de que forma o controle exercido pelos aplicativos é percebido pelos trabalhadores de entrega por aplicativos em suas relações de trabalho e quais as suas formas de resistência. Para isso foi feita uma netnografia em redes sociais que analisou 21 grupos no Facebook com 136 postagens de entregadores, e foi criado um grupo, Conversas sobre o trabalho por aplicativos, para complementar a coleta de dados. Todo o material coletado foi analisado com base em análise temática. A teoria do processo de trabalho de Harry Braverman foi utilizada para entender como o controle se manifesta nessas relações trabalho, desde o controle técnico e burocrático até o controle normativo e neo-normativo, bem como nas transformações que a tecnologia tem criado nas relações de trabalho e no controle algorítmico sobre os trabalhadores, exercido pelas plataformas digitais de entrega de comida, operando no Brasil. Os principais achados da pesquisa indicam que, embora o trabalho de entregador tenha características claras de precarização e intensificação do trabalho, sua inserção no contexto brasileiro, marcado por desemprego sistêmico e estrutural, faz com que essa atividade seja considerada como uma opção melhor do que o trabalho formal, sendo considerada mais garantida e, até mesmo, pertencente a uma elite entre os precarizados. Além disso, a construção identitária dos entregadores, marcada por discursos de reforço de estereótipos de masculinidade, como o do homem provedor e pai de família, bem como discursos de empreendedorismo, de liberdade ressignificada, ao depender somente do esforço pessoal do indivíduo, mascaram os aspectos deletérios desse tipo de trabalho. Argumenta-se que esses fatores contribuem para a produção do consentimento e enfraquecimento das possibilidades de resistência, da representação sindical e da transformação da realidade dos entregadores frente aos aplicativos.