Práticas didáticas realizadas são ditas como invisíveis e misteriosas. Professores críticos e reflexivos são o objetivo máximo de qualquer curso de formação de professores. O objetivo deste estudo é investigar se o trabalho de documentação do professor pode ser considerado como um instrumento que promove reflexão, e que revela as cenas pedagógicas (Margolinas e Rivière, 2005), e o conteúdo utilizado para o planejamento e o ensino. O estudo foi realizado na cidade do Rio de Janeiro (Brasil). Visitamos 80 escolas públicas de ensino fundamental II de todas as 11 corregedorias regionais de educação (CREs), falamos com cerca de 200 professores, coletamos 78 questionários de uma amostra intencionalmente selecionada, e conduzimos um grupo focal e 12 entrevistas semi-estruturadas. Utilizamos grounded theory para analisar os dados de acordo com os conceitos fundamentais do nosso referencial teórico: reflexão, documentação pedagógica e TIC na educação. Os resultados indicaram uma interação entre professores e recursos disponíveis (foco nos recursos digitais) para organizar, criar, expandir (extend), transformar, remixar, e compartilhar conteúdo, sugerindo uma atitude reflexiva por parte dos professores durante o seu trabalho de gênese documental. Nós investigamos especificamente o trabalho de documentação do professor, o que o compõe: motivações, intenções e uso. O material observado (oral, concreto, e virtual) indicou que a motivação do professor é mais instrumental e pragmática, com poucas intenções transformadoras; além disso, houve pouca evidência de uma reflexão proativa, deliberada e intencional, como por exemplo um olhar retroativo para as práticas recém realizadas. No entanto, suas atitudes e opiniões sugeriram um interesse genuíno na melhora de suas práticas e uma crença de que esta melhora pode ser promovida através de ferramentas digitais; no caso o trabalho de documentação sendo reconhecido como um caminho promissor. Nossa discussão indica as limitações do nosso referencial teórico para explicar a gênese documental do professor e como ela se relaciona com uma postura reflexiva. Nós reconhecemos a necessidade de uma teoria que reconheça e explique a agência da matéria (no nosso caso, das tecnologias digitais), como a Teoria Sócio Material (Material Engagement Theory - MET).