Esta pesquisa buscou analisar a transformação dos projetos de vida dos indivíduos nas últimas décadas, atentando especialmente para o lugar que constituir uma família ocupa em seus planos, tomando como referência os discursos de pessoas de duas gerações. As intensas mudanças sócio-culturais da contemporaneidade levaram ao aprofundamento do individualismo nas relações e, consequentemente, à alteração nas formas de engajamento dos indivíduos na construção de suas trajetórias de vida. Diante disso, o objetivo desta investigação foi o de compreender articuladamente as mudanças ocorridas na família e as mudanças nos padrões de trajetória de vida dos indivíduos. Para tanto, foi feita uma pesquisa em que foram entrevistadas vinte pessoas, sendo 10 com idades entre 63 e 69 anos e 10 com idades entre 27 e 34 anos, metade homens, metade mulheres. Os textos resultantes das entrevistas foram submetidos a uma análise de discurso. Os resultados indicaram estar ocorrendo, na contemporaneidade, um movimento de desinstitucionalização de um modelo de trajetória de vida rigidamente padronizado. A individualização e despadronização das trajetórias de vida geraram, por um lado, a diminuição das assimetrias de gênero e, por outro, a desestruturação de um modelo de família baseado na estabilidade do casamento. Em conseqüência disso, observa-se a constituição de uma nova concepção de família que inclui a idéia de instabilidade das relações amorosas. Diante disso, filhos passam a ter uma importância cada vez maior na estruturação da idéia de família, como um vínculo eterno.