No ocaso da época trágica, a última das tragédias de Eurípedes, As bacantes, encenada postumamente, resgata a figura de Dioniso da marginalidade no teatro grego e realoca-o novamente no epicentro do espaço cênico e cósmico, o qual originariamente sempre lhe pertence. A excentralidade dionisíaca, que emana de sua irremediável marginalidade, é, contudo, metabolizada como um corpo estranho nessa ficção, e sua intragável incorporação, por outro lado, expõe diante do coro e do público os efeitos e as violências decorrentes dessa dupla recusa por acolhimento. O objetivo deste trabalho consistirá em compreender, sob o signo do imprevisto, aqueles que exigem e, simultaneamente, ultrapassam as conformações necessárias para seu endereçamento e sua sobrevinda, que o que se encontra em jogo é a singularidade inaudita de um evento, de um porvir que descortina, da reatualização do caos e de rupturas excruciantes, novos espaços cosmogônicos, novas transmutações: na peça, o imprevisto é franqueado e desbravado pelo elemento dionisíaco, que arrasta consigo a criatividade e destrutividade divinas e cósmicas.