Por diversas vezes vimos o Brasil envolvido em crises. Presenciamos alguns momentos de crises cambiais e ataques especulativos durante os anos 80 e 90, nos quais o Brasil foi duramente afetado, principalmente no que diz respeito às suas contas externas. No entanto, em 2007 se iniciou a atual crise financeira mundial, considerada por muitos economistas, a mais grave desde a Grande Depressão, afetando diversos países em todos os continentes e, ao contrario de outras épocas, o Brasil reagiu muito bem à crise, sendo pouco afetado pela mesma. Uma das razões para isso é a melhora nas contas externas brasileiras. Nos últimos anos, o Brasil aumentou de forma consistente as exportações, melhorando a balança comercial e diminuindo o déficit em conta corrente, chegando a atingir superávits a partir de 2003. Desde 2006 o nível das reservas internacionais vem registrando recordes sucessivos o que, somado às recompras dos títulos da dívida pública, tem reduzido a dívida líquida brasileira, levando o país a alcançar a posição de credor internacional em 2008. Existem poucos estudos que analisem os efeitos da crise direcionados especificamente à nossa economia, e por estarmos ainda atravessando esse período, considero de grande valia estudar esses efeitos em nossas contas externas. O objetivo desse estudo é fazer uma análise descritiva dos efeitos da crise nas contas externas do Brasil mostrando como as mesmas foram afetadas pela atual crise financeira mundial, e o quanto elas ajudaram a manter a economia relativamente estável durante esse período. Através do estudo da evolução histórica dos dados de fluxos e do estoque de ativos e passivos financeiros internacionais do país, mostrarei como a crise os afetou e como a mudança dessas contas nos últimos anos ajudou o país durante a chamada crise do subprime. Concluiremos que a política econômica adotada pelo Brasil nos últimos anos contribuiu para que o mesmo enfrentasse a crise de forma privilegiada, não tendo a economia sido afetada com a mesma magnitude que outros países. O modelo econômico adotado pelo país desde fins dos anos 90, com o controle da inflação e o aumento das reservas internacionais fez com que o país formasse um colchão de proteção para momentos de crise. A forma consistente como nossa economia veio se desenvolvendo também gerou credibilidade no mercado externo, o que também colaborou para que fossemos menos afetados que outros países.