Esta tese promove uma análise das relações entre literatura, identidades, memória e cultura guineense na obra Kikia Matcho (1997), de Filinto de Barros e Mistida (1997), de Abdulai Sila, sob a perspectiva do diálogo nessas vertentes, tendo em vista o passado colonial e os consequentes processos da construção do Estado-nação e da resistência das culturas locais. Sila e Barros discutem marcas do passado literário e cultural da Guiné-Bissau e suas obras procuram definir perspectivas de afirmação histórica e política, por meio de atitudes individuais e dos movimentos culturais que impulsionaram a revolução da independência. Além disso, trata-se de compreender a importância das marcas de oralidade nessas narrativas. O método escolhido para o desenvolvimento da pesquisa é o analítico-descritivo e de cunho bibliográfico, considerando-se Kikia Matcho (1997) e Mistida (1997) como objetos do estudo. Para tanto, o trabalho apresenta, como fundamentação teórica, Alfredo Bosi (2002) sobre narrativa e resistência, Edward Said sobre o papel do intelectual como porta-voz; Moema Augel (2007), Mia Couto (2005), Mata (2014), Hall (2006) e Hamilton (1999) em suas reflexões sobre a questão dos vícios coloniais na formação da identidade nacional. Como resultado, os romances apresentam, de diferentes modos, entrecruzamentos entre a história e a ficção, denunciando os problemas sociais e políticos enfrentados pelos guineenses em vários momentos de sua história até os dias atuais. Nessas denúncias, afirmam-se sentidos de resistência cultural e de afirmação identitária.