Reconhecendo a multiplicidade de dimensões presentes na relação subúrbio-trem, a presente pesquisa tem como objetivo investigar o processo de formação e as transformações ocorridas no bairro de Marechal Hermes (Zona Norte do Rio de Janeiro) com base na implantação dos ramais ferroviários que o atravessam (início do século XX). Além disso, aspira compreender de que maneira a divisão causada por esses elementos físicos influenciou a constituição do território e a organização social do bairro até a atualidade. Orientada por estudos contemporâneos sobre os subúrbios cariocas, a pesquisa busca examinar as implicações da fragmentação espacial no bairro através do estudo de caso, a fim de compreender de que maneira a segregação física causada por esses limites urbanos, permeia o imaginário da população, passando a influenciar em uma escala local, os processos de hierarquização e segregação sociais. Fundamentada nos conceitos apresentados por Merleau-Ponty, Juhani Pallasmaa, Kevin Lynch, Michel de Certeau, Bernard Lepetit, Pierre Bourdieu e Marion Segaud, é proposto um desvio das bases pragmáticas e funcionalistas que até hoje ainda enquadram a arquitetura, para refletir sobre alguns dos aspectos não objetivos relacionados à produção do espaço. Quais seriam os efeitos dos elementos que constituem a paisagem urbana sobre a maneira como percebemos e nos relacionamos com o espaço à nossa volta? Através da abordagem fenomenológica e do espaço em sua dimensão antropológica, quais lições podemos extrair? A fragmentação resultante da implantação dos ramais ferroviários (Supervia e Reta de Honório) no bairro de Marechal Hermes exerce, ainda hoje, uma influência significativa sobre os padrões de ocupação, utilização e apropriação dos espaços.