O presente estudo teve como objetivo analisar limites entre violência intrafamiliar contra crianças e cuidado, na perspectiva de familiares e profissionais de uma instituição de acolhimento, localizada na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com a coleta de dados realizada através de entrevistas semipadronizadas com familiares de crianças acolhidas e com profissionais da instituição, além de relatórios técnicos produzidos pela equipe da instituição. Para análise dos dados, utilizou-se o método de interpretação dos sentidos atribuídos, uma vez que este permite compreender as relações em determinado contexto sócio histórico. Os resultados apontaram que, apesar da importância atribuída à família pelos entrevistados, sua composição e relações estabelecidas entre os membros divergem entre os grupos. Notou-se também a presença de mulheres como as principais responsáveis pelo cuidado e por apoiar os familiares, e a sua responsabilização diante da violação de direito das crianças. Foi possível perceber ainda que a fragilidade nos vínculos familiares do público atendido pela instituição marca gerações anteriores ao acolhimento das crianças, e por isso é fundamental conhecer a história de vida de cada família para compreender a forma como seus membros se relacionam. Constatou-se também que o cuidado é delineado através de aspectos subjetivos, enquanto a violência é definida através de suas manifestações, e apesar de serem considerados pontos antagônicos na relação entre adulto-cuidador e criança-sujeito de cuidado, é tênue a linha que separa a classificação de determinada ação como forma de violência ou como manifestação de cuidado.