A vingança, nas artes, é provavelmente um tema tão frequente e tão relevante quanto o amor. Na teoria social, em contrapartida, o assunto se encontra pulverizado, coadjuvando várias outras ideias. Este trabalho busca elevar a vingança à condição de protagonista também nas ciências sociais: para tal, em primeiro lugar, procuro situar vingança e vingador a partir da noção de reciprocidade, contrastando trocas positivas (dádivas) e negativas (ofensas). Procuro ainda examinar uma série de conceitos correlatos — honra, sacrifício e renúncia, por exemplo — sempre com o intuito de circunscrever ou de inserir o objeto entre os elementos contemplados pela teoria antropológica. Em um segundo momento, busco na literatura modelos de vingador; partindo do indivíduo para a sociedade, colocando personagens clássicos da literatura ocidental no centro do drama, tento interpretar as representações da vingança à luz dos modelos antropológicos ora pretendidos. Por fim, no terceiro e último bloco me aproximo da vingança a partir do caso brasileiro, usando como molduras a realidade sertaneja, os contrastes entre interior e litoral, explorando as particularidades sócio-culturais amparadas principalmente na honra como elemento mantenedor da coesão social.