Estar confinado em casa é um incentivo para pensar respondeu Alain de Botton para uma entrevista no começo da pandemia do coronavírus. Em sua filosofia da vida cotidiana, o filósofo suíço desafia o leitor a ter viagens no sofá durante o isolamento como uma forma de organizar a vida. Desenhado no final do século XVII e começo do século XVIII, o sofá era o móvel mais original de sua época e levou a corte francesa a um nível de conforto muito invejado pelas outras cortes. Nenhum móvel criado anteriormente teve tanta propaganda, visitação, reportagens e visibilidade. O conforto se tornara o grande luxo e possuir um sofá era símbolo de status que rapidamente foi desejado e adquirido pela burguesia enriquecida que provavelmente não o usava para pensar. Quase trezentos anos depois, ter um sofá não parece tão original assim, mas ter um sofá para poder pensar a vida tranquilamente, em isolamento, algo que não é possível para a maioria da população, parece agora original e invejável, poder deitar-se num confortável sofá e pensar a vida em isolamento e silêncio sob a ameaça de um vírus invisível. |