O estudo da Psique humana é um campo que permite se estender por vastos territórios e atividades sócio culturais. Na medida em que as emoções, as ideias e as ações do Ser humano se expressam no mundo, através de formas concretas, abstratas, dramatizadas e imaginativas, cria-se a possibilidade de se observar e analisar as riquezas, os conflitos e as complexidades que inscrevem e permeiam as subjetividades antropológicas.Mesmo a experiência clínica, desde os seus primórdios de atuação, brincou no espaço da arte e da literatura como meios de conhecimento e acréscimo teórico. Freud, por exemplo, apresentou uma obra dedicada somente à análise de uma narrativa literária e de seus personagens, denominada O Delírio e os Sonhos na Gradiva (1906-1909), além de ter produzido texto sobre o escritor russo Dostoiévski e o sua relação com o parricídio (1928), discorrido sobre a infância de Leonardo da Vinci (1910), adentrado na obra Poesia e Verdade de Goethe (1917) e analisado a escultura de Moisés realizada por Michelangelo (1914). Tudo isso apresentado e sintetizado com o propósito de demonstrar como a Arte é uma grande ferramenta de compreensão humana.É por meio deste caminho de explorações e descobertas literárias em prol da Psicologia que este trabalho foi inspirado. O presente estudo se centralizará na análise da obra do francês Honoré de Balzac, escrita no século XIX, mais precisamente no ano de 1831, nomeada de La Peau de Chagrin (A Pele de Sofrimento), tendo como personagem principal um jovem chamado Raphael.Trata-se de um sujeito imerso em frustrações e conflitos psíquicos, forças antagônicas que adoecem o seu ser. Ele recorre, como último recurso de esperança, à uma Pele mágica que lhe promete realizar todos os seus desejos, mas com o preço desta possuir e consumir toda sua vida. Raphael descreve ao longo da narrativa a sua história pessoal, apresentando os motivos que o levaram ao seu adoecimento. A temática da etiologia psicopatogênica gira em torno da relação ambivalente com seu pai, um homem déspota e frio, que provoca fantasias inconscientes masoquistas, tendências hostis, vingativas e amorosas, sentimento de culpa e identificação feminina, e da relação com outras duas mulheres, suas amantes ao longo da história, Pauline e Foedora.