Tratar pacientes com tendências masoquistas, que de maneira geral assumem uma posição emocional de vitimização, se sabotando e se menosprezando, pode ser um grande desafio na prática clínica. É comum, nesses casos, que os vínculos afetivos estabelecidos pelo masoquista se desgastem, pois constantemente desafiam os sentimentos e a paciência dos envolvidos. No senso comum, sugere-se que esses indivíduos possuem traços masoquistas, pois aparentam apreciar o sofrimento. A forma como os pacientes tendem a agir nesse tipo de caráter, sendo o caráter um distúrbio básico ou padrão defensivo e relacional em que os indivíduos se colocam no mundo, frequentemente cria uma grande resistência ao progresso do tratamento. Tal resistência pode se manifestar nas emoções, atitudes e expectativas do indivíduo, inconscientemente projetados no terapeuta, como também nas respostas contratransferenciais do terapeuta. Pensando nisso, a fim de melhor compreender esse tipo de caráter comum na prática clínica, foi investigado a formação do caráter masoquista e a dinâmica emocional envolvida, trazendo as contribuições de Wilhelm Reich, Alexander Lowen e Sigmund Freud, assim como o manejo clínico de suas defesas à luz das Psicoterapias Corporais. Para tal e com o intuito de ter um entendimento mais aprofundado e esclarecedor, inicialmente foi contextualizado o conceito de caráter, destacando sua formação e os tipos existentes. Além disso, foi apresentado como o caráter molda a forma como as pessoas se relacionam umas com as outras e como, ao se tornar rígido, restringe a capacidade do paciente de funcionar de forma mais saudável e criativa.