O presente trabalho se propôs a investigar o entrelace do modo de fazer cinema do diretor Eduardo Coutinho com a clínica psicanalítica de Jacques Lacan. Dada essa premissa, a pesquisa apresentou como aspecto norteador a extração da singularidade nos discursos de sujeitos, estejam eles de frente para a câmera ou deitados em um divã. Tomamos como pressuposto a circunscrição do conceito de singularidade, a partir de suas variadas apresentações, tal como introduzido por Jacques Lacan em seu ensino. Antes de adentrarmos nesse recorte central, o trabalho traça uma base conceitual atravessando as obras de Immanuel Kant, Aristóteles e Karl Marx, o que permitiu o aprofundamento inicial da pesquisa pela diferenciação dos termos: universal, particular e singular. Para tornar o conceito de singularidade mais concreto, recorro a uma das abordagens que Lacan utilizou para tratar da singularidade: o conceito de objeto a, especificamente pela premissa do olhar como tal. Através do jogo erótico do olhar, proposto na produção fílmica Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho, e na teoria lacaniana, compreendemos este objeto como ponto de captação e produção do discurso singular. Tal percurso nos servirá para uma discussão importante acerca da teoria proposta pelo semiólogo Roland Barthes, que nos apresenta as noções de studium e punctum, como ponto de associação ao direcionamento de Coutinho e Lacan à busca do punctum, ou singular. Esta perspectiva é concentrada no filme Jogo de Cena, onde o elemento principal é o narrar a si com fabulações permeadas de restos que surgem provocados pelo olhar. Diante dessas junções, trabalhamos o aprofundamento do percurso clínico pela sétima arte.