A ideia central do trabalho é estudar as práticas religiosas de africanos e seus descendentes a partir de um documento inquisitorial, tendo como eixo compreender a prática ritualística, quais objetos eram selecionados e seus significados para os envolvidos, com o principal objetivo em como animais eram utilizados para intermediar as relações entre vivos e mortos. Dessa forma, ao propor estudar essas práticas religiosas, deve-se compreender o protagonismo africano, entendendo os sacerdotes como sujeitos criadores e recriadores dessas práticas, formas de ver mundo e de se relacionar entre si e com o sagrado. O objetivo então é perceber como as religiões encontradas no entorno de Luanda lidavam com o sacrifício de animais e, assim, compreender como as religiões locais realizam essa prática e como ela é vista pelo escrutínio do Santo Ofício. Além disso, procura-se investigar se havia rituais parecidos na América portuguesa e quais possíveis conexões entre as práticas utilizadas nos dois continentes, tendo como ponto de partida o caso descrito no processo inquisitorial de Manuel Gregório, nascido em Angola e acusado de feitiçaria, no final do século XVIII. Sua história se confunde com a de outros acusados pela Inquisição que encontramos na bibliografia sobre as religiosidades africanas na América portuguesa. Para tanto, começamos por entender os mecanismos do Santo Ofício, sua atuação na América portuguesa, a estrutura de um processo inquisitorial e os detalhes metodológicos de como lê-lo e analisá-lo.