A dissertação visa entender como os rifles AR-15 fantasmas, que surgiram como uma arma de escolha na América Latina, desafiam as práticas de controle de armas nos níveis internacional, regional e local. Ele é chamado de fantasma porque é montado com peças industriais não regulamentadas de um rifle e uma parte inferior de airsoft sem marcação, tornando-o não rastreável. Para rastrear um rifle sem marcações seriais, seu itinerário transnacional teve que ser reconstruído usando dados de apreensões de outros rifles AR-15 fantasmas e seus componentes, lançando luz sobre dinâmicas que, de outra forma, permaneceriam ocultas. Para atingir isso, a biografia do objeto é usada como uma estratégia analítica, com cada apreensão fornecendo uma oportunidade de juntar diferentes partes da narrativa do fictício rifle X, que desafia práticas de controle internacionais, regionais e locais antes de finalmente chegar ao seu destino no Rio de Janeiro. Nessas práticas de controle, cada arma é enquadrada como uma unidade com um ciclo de vida, caracterizado por estágios distintos e bem definidos que implicam oportunidades de intervenção para torná-las controláveis ao longo de sua jornada. No entanto, esse processo não é tão linear quanto é retratado. Esses rifles fantasmas desafiam essas oportunidades de intervenção, não apenas como resultado de erro humano, mas também devido ao seu design modular e à capacidade de substituição do receptor inferior — o único componente rastreável. Isso prejudica um dos princípios fundamentais da arquitetura de controle de armas: a rastreabilidade. Portanto, este trabalho reflete sobre como a materialidade das armas interage e remodela as práticas de controle de armas.