O presente trabalho constitui um estudo sobre um conjunto aberto de esforços intelectuais na busca pelo arrefecimento dos ânimos e, em última instância, pela paz social, tendo esta sido severamente abalada pela Reforma protestante iniciada no século XVI. Na tentativa de melhor contextualização, a situação social e as suas tenções latentes que antecederam a ruptura com a Igreja Católica foram explanadas nos primeiros capítulos. Imediatamente após o rasgo da cristandade, não foi pela tolerância que os esforços se fizeram, mas sim pelo retorno à situação anterior. Apenas quando a convivência, no Ocidente, com um cristianismo que não obedecia ao Vaticano se mostra inescapável é que a tolerância religiosa surge como solução ineludível e urgente. Este trabalho quer mostrar a dinâmica de transformação dos esforços intelectuais, suas matizes e intensidades, na correspondência com a configuração social de diferentes períodos. Quer também afirmar que é no século XVII, justamente quando os conflitos são mais viscerais, é que os esforços pela tolerância são mais vigorosos. Por isso, esta tese quer expor o empenho de Pierre Bayle neste sentido, colocando-o como o intelectual de maior envergadura diante dos maiores conflitos religiosos do Ocidente. Além disso, este trabalho quer realçar a recorrência dos argumentos céticos como instrumental nas obras dos diversos intelectuais que permearam estas páginas.