Esta pesquisa lança luz às estratégias discursivas dos discursos de defesa proferidos pelos advogados atuantes nos casos Ângela Diniz (1979) e Mari Ferrer (2020) durante as audiências de julgamento. O objetivo é comparar como tais discursos avaliam a vida dessas mulheres sob um prisma ideológico atravessado por crenças e relações de poder concernentes à vida social e à esfera jurídica. Assim, buscamos lastros e rastros que atualizam e (re-)entextualizam tal discurso moralizante sobre mulheres que visam à culpabilização da vítima. Os dados usados para esta pesquisa são públicos e foram gerados a partir das transcrições e do áudio do episódio O Julgamento, do programa de podcast Praia dos Ossos, produzido pela Rádio Novelo e disponível em site próprio; e do vídeo do julgamento do caso Mari Ferrer, disponibilizado em canal da rede social YouTube. Este trabalho apoia-se em estudos recentes (in-)disciplinares da Linguística Aplicada (LA) que tratam o discurso para além do texto, como algo que pode ser entendido como ação e que gera, projeta e/ou reverbera efeitos na sociedade. O desenho teórico-metodológico desta pesquisa é de base qualitativa e apoia-se na perspectiva socioconstrucionista e nos estudos pós-modernos da Análise do Discurso a fim de investigar os efeitos do discurso na vida social, na (co-)construção das relações e ações por meio de práticas discursivas situadas em um contexto social e espaço-temporal. Em nível microdiscursivo, a análise das escolhas léxico-gramaticais baseia-se no Sistema de Avaliatividade, apontando como as relações de poder, as crenças e os valores sociais operam no discurso.