Título: | CADA LUTO, UMA LUTA: NARRATIVAS E RESISTÊNCIA DE MÃES CONTRA A VIOLÊNCIA POLICIAL | ||||||||||||
Autor: |
ETYELLE PINHEIRO DE ARAUJO |
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Colaborador(es): |
LILIANA CABRAL BASTOS - Orientador LIANA DE ANDRADE BIAR - Coorientador |
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Catalogação: | 17/SET/2021 | Língua(s): | PORTUGUÊS - BRASIL |
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Tipo: | TEXTO | Subtipo: | TESE | ||||||||||
Notas: |
[pt] Todos os dados constantes dos documentos são de inteira responsabilidade de seus autores. Os dados utilizados nas descrições dos documentos estão em conformidade com os sistemas da administração da PUC-Rio. [en] All data contained in the documents are the sole responsibility of the authors. The data used in the descriptions of the documents are in conformity with the systems of the administration of PUC-Rio. |
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Referência(s): |
[pt] https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/projetosEspeciais/ETDs/consultas/conteudo.php?strSecao=resultado&nrSeq=54816&idi=1 [en] https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/projetosEspeciais/ETDs/consultas/conteudo.php?strSecao=resultado&nrSeq=54816&idi=2 |
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DOI: | https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.54816 | ||||||||||||
Resumo: | |||||||||||||
O Rio de Janeiro é o estado que conta com o maior número de mortos em incursões policiais nas favelas – geralmente, incursões relacionadas ao combate às drogas. Por exemplo, em 2019, 1.808 mortes (sendo a população negra, 70 porcento das vítimas) foram classificadas como homicídio decorrente de intervenção policial, classificação que caracteriza a ação do policial como legítima defesa e significa uma série de diligências que, geralmente, resultam no arquivamento do Inquérito Policial sem uma investigação mais profunda ou na absolvição dos oficiais envolvidos. Nesse cenário emerge o movimento de luta das mães de vítimas desse tipo de violência – mulheres que se engajam em movimentos sociais para lutar por justiça, para esclarecer as circunstâncias da morte dos filhos e exigir a punição dos envolvidos. O presente
trabalho tem como objetivo investigar como se dá a transformação do luto em luta, isto é, examinar como as mães articulam sofrimento pessoal e ativismo político ao se engajarem em movimentos sociais, mais especificamente, na Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência. As narrativas enunciadas por elas nos protestos públicos se configuram como objeto privilegiado de análise. Trata-se de uma análise
qualitativa-interpretativista, empreendida em perspectiva micro, conduzida pelos estudos que consideram o discurso narrativo como forma de construção da vida social e instrumento dos movimentos sociais para reivindicar suas demandas. A análise foi organizada segundo quatro esferas, partícipes do engajamento dos familiares na Rede, são elas: as narrativas, a resistência, a maternidade e o gerenciamento das emoções. A
primeira análise focaliza a estrutura das histórias, chamadas aqui de narrativas de engajamento. Emprega elementos da teoria laboviana, em interface com os estudos que contemplam os aspectos socioculturais e interacionais que fundamentam a prática discursiva. A segunda trata dos mecanismos discursivos mobilizados pelos familiares na elaboração de emoções como a dor de perder um filho; se debruça sobre os sistemas de coerência acionados junto ao contexto macrossocial nas narrativas, isto é, sobre o
modo como as relações de sequencialidade e causalidade construídas nessas histórias relacionam-se a outros discursos culturalmente consagrados. A terceira observa como a categoria mãe é acionada nas narrativas. A quarta e última análise se detém nos eventos catalizadores que impulsionam o engajamento e o ativismo sustentado dos familiares na Rede, investigando como o chamado choque moral é construído nas histórias. Em suma, o trabalho analítico sugere a existência de um padrão que organiza as narrativas de engajamento e identifica dois mecanismos discursivos entrelaçados: i) a dupla transição entre uma pessoalização x coletivização da dor de perder um filho e da experiência com a violência policial – de modo que o sofrimento individual de uma mãe se transforma no sofrimento do grupo e a caracterização do policial responsável pela morte se transforma em denúncias à atuação da corporação como um todo; ii) a
racionalização dos eventos que levaram à morte do filho por meio de sistemas de coerência que operam com versões simplificadas do racismo e da teoria da Necropolítica. Nesse sentido, as narrativas se caracterizam como práticas de resistência e denúncias ao racismo que permeia diversas instituições do Estado; e práticas de reexistência na medida em que as mães, ao praticarem o luto público, humanizam as
vítimas da violência policial e reenquadram as mortes nas favelas não como casos isolados de má conduta de policiais, mas sim como parte de uma lógica de atuação do Estado.
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