A presente pesquisa tem como objetivo analisar os vínculos paterno-filiais de crianças e adolescentes acolhidos institucionalmente, antes, durante e depois do acolhimento. Parte-se da concepção da paternidade como construção sócio-histórica, fundamentada em perspectiva teórica interseccional e decolonial, articulada a estudos sobre masculinidades negras. Para tal, procedeu-se à análise de conteúdo de 39 prontuários de duas Unidades de Reinserção Social do município do Rio de Janeiro, buscando identificar como os pais são mencionados, suas condições de vida e formas de participação na vida dos filhos. Os resultados denotam fragilidades nos vínculos paterno-filiais dos acolhidos, expressos em escassa documentação relativa aos pais nos registros institucionais, inexpressiva presença em visitas, situações de vulnerabilidade social dos homens pais, com reduzida inserção em políticas sociais. Também pouco constam como referência familiar em processos de reinserção à família de origem. Tais achados demonstram como processos históricos os vulnerabilizam socialmente, com a ausência paterna tendendo à naturalização, invisibilizando-os e não contribuindo para fortalecimento de vínculos paterno-filiais dos acolhidos e reversão da sobrecarga feminina nos cuidados com a prole.