Uma prática comum em muitos movimentos sociais contemporâneos é a produção de textos públicos como cartas, manifestos, notas de apoio, repúdio, denúncia, boletins, dentre outras formas textuais. Esses documentos são elaborados para comunicar ideais, reivindicações, posicionamentos políticos ou críticas e visam pautar um diálogo público sobre questões específicas. Com a presente comunicação, busca-se refletir sobre a importância dessa produção documental dos movimentos sociais, sustentando um duplo argumento. Primeiro, argumenta-se que uma análise documental desses escritos, tanto sua lógica interna e condições de produção, quanto do contexto ao qual se refere, pode oferecer pistas reflexivas valiosas sobre a historicidade do movimento, a identidade dos membros, seus valores ético-políticos, projetos políticos defendidos e concepções de democracia que fundamentam suas práticas. Propõe-se que os documentos produzidos pelos movimentos são uma expressão discursiva e intencional daquilo que importa para os movimentos, sendo uma evidência profícua para sua análise. Em seguida, argumenta-se que a produção desses escritos pode ser analisada como parte dos repertórios de ação coletiva dos movimentos, isto é, formas de ação que emergem da luta dos atores e são aprendidas, praticadas e adaptáveis circunstancialmente. Destaca-se que os textos são produtos e produtores de orientações políticas e compõem o repertório discursivo dos movimentos, sendo ferramentas ativas para influenciar e intervir simbolicamente em contextos sociais e políticos. Nesse sentido, argumenta-se que, se tais documentos importam para os atores sociais, não devem ser negligenciados por seus analistas. Exemplos empíricos da Rede Brasileira de Teatro de Rua (RBTR) serão apresentados para ilustrar esse debate.