[pt] AS MÚLTIPLAS INTERFACES DO DUPLO EM TLON, UQBAR, ORBIUS TERTIUS: METAFÍSICA DA FICÇÃO E FICÇÃO DA METAFÍSICA EM UM CONTO DE BORGES

[pt] IRLIM CORRÊA LIMA JÚNIOR

[pt] METAFISICA

[pt] BORGES

[pt] REALIDADE

[pt] FICCAO

[pt] DUPLO

[pt] Amplamente estudado em teoria literária, psicologia, antropologia etc., o duplo é um tema universalmente recorrente na literatura, mas muito especialmente a partir do século XIX, quando se transformou em um recurso amiúde explorado e consagrado por uma gama imensa de autores, mostrando-se um terreno fértil para se refletir acerca de zonas limítrofes que demarcam a interseção e a reversibilidade entre fenômenos complementares como identidade e alteridade, normalidade e loucura, realidade e ficção, entre outros. Aproveitando-nos de pontos nodais que são elementos clássicos na composição ficcional do duplo, como as figuras do espelho e da sombra, ou do acossamento e da paranoia, investigaremos a aparição do duplo no conto Tlon, Uqbar, Orbius Tertius, ficção do escritor argentino Jorge Luís Borges. Estes três nomes que dão título ao conto são formas múltiplas de manifestação do duplo, que, nesta narrativa borgeana, não assinala a duplicação de um personagem, mas sim do mundo, espelhando-o de forma eximiamente complexa, com funcionamento inteiramente peculiar e de natureza supostamente ficcional, o qual, como uma sombra ou um espectro, acossaria a realidade, a princípio misteriosamente insistindo por ser descoberta, até que o fascínio e a curiosidade do narrador-personagem por esse duplo que espelha o mundo, com características antagônicas, resulta numa fresta a partir da qual duplo do mundo transforma-se na ameaça à realidade de ser revertida inteiramente numa obra de ficção. Nosso objetivo, então, será destrinchar os elementos cruciais que constituem a estrutura do duplo neste conto de Borges, não como uma ocorrência atípica ou regular no processo de individuação de uma subjetividade, mas sim como duplicação procedural e metafísica a partir da qual a realidade da ficção e a ficcionalidade do real mutuamente se instanciam, se recusam e se ameaçam.

2018-07-12

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