O presente trabalho pretende investigar a noção de objeto a – tal como formulada por Lacan em seu Seminário livro 10, A angústia – à luz de algumas passagens e elementos narrativos extraídos da tetralogia A amiga genial, de Elena Ferrante. A hipótese desta investigação é a de que o estudo do duplo papel do objeto a, entre deflagrador de angústia e causador de desejo, pode ser beneficiado pelo recurso à ficção ferranteana. Sob esta perspectiva, inicialmente, percorremos as incursões de Freud e Lacan na aproximação entre arte e psicanálise, de modo a definir um método no enlace entre os dois campos. Além disso, apresentamos a escritora Elena Ferrante, destacando aspectos singulares de seu fazer literário, bem como as coordenadas principais de sua tetralogia napolitana. Em seguida, após a introdução da noção de objeto a, sua faceta angustiante é abordada na relação com o corpo, a partir de um fenômeno que acomete uma das personagens do romance, a desmarginação. Por fim, o exame das nuances da amizade narrada por Ferrante permite a discussão da função de causa de desejo do pequeno a lacaniano, deslocando a desmarginação de seu sentido inicial.