A presente pesquisa parte do pressuposto de que vivemos um momento ímpar de transformação planetária, no qual está evidenciada a crise do Antropoceno, e que para expandir o horizonte das formas de pensar, de imaginar e de sentir, visando uma reconstrução do eixo da vida no planeta, é urgente valorizar as dimensões sensíveis do corpo como alternativas às abordagens objetificantes perpetradas pelas tradições epistemológicas ocidentais racionalistas, colonizadoras e capitalistas que nos conduziram até aqui. Tomando como eixo central a abordagem somática de anatomia experiencial Body-Mind Centering, a pesquisa se propõe a pensar alguns princípios advindos de suas práticas, em diálogo com reflexões teóricas de pensadoras contemporâneas, a partir de uma metodologia difrativa, tal qual proposta por Donna Haraway (2004, 2019) e Karen Barad (2007, 2012, 2017). A questão investigada versa sobre como uma poética da matéria corpórea pode contribuir para o pensamento e para a arte contemporâneas comprometidas com a tarefa de gerar uma postura-ação micropolítica de reconfiguração das potências de presença e de atuação do corpo com o meio ambiente, tanto na cena quanto na vida. A pesquisa é teórico-prática e se propõe a investigar as noções de saber celular e de performatividade da matéria, relacionando simpoieticamente insights brotados de práticas pessoais, com relatos de experiências e ressonâncias criativas geradas nos Laboratórios Performativos de Anatomia Sensível (oferecidos em 2020 e 2021), e com abordagens da física quântica, da biologia, das somáticas, da dança e das ciências sociais. A tese pretende, através do jogo entre esses diferentes registros de escrita, fabular uma poética do Body-Mind Centering, entendido como uma metodologia de fabulação especulativa do corpo.