A partir do conceito de escritas da memória, e tomando como base as vozes de três sobreviventes dos campos de concentração e extermínio nazistas, este ensaio formula a sua paisagem sensível. Explorando as relações entre literatura e música – mais especificamente, entre alguns aspectos da fuga musical (sujeito, contrassujeito, tema, resposta, improviso) –, o que se busca é escutar um pouco de Paul Celan (o poema Fuga da morte), Primo Levi (trecho do livro A trégua) e Helga Weiss (o desenho Checking for Lice), a fim de destrinchar o emaranhado sonoro que se forma a partir da interação entre as obras em questão. Serão comentadas, no processo, as provocações contidas no ensaio Da escrita obscura, de Primo Levi, de modo a viabilizar uma certa clareza de expressão, por um lado, e a acolher o ruído que compõe as narrativas da experiência concentracionária, por outro, acatando a polifonia incontornável – e talvez obscura – do encontro de vozes proposto, polifonia que não ameaça a potência melódica específica de cada voz.