Desde a década de 1980 é notória a difusão do pensamento de Antonio Gramsci na produção do Serviço Social brasileiro. Sua influência adensou tanto o processo de superação com o tradicionalismo quanto a construção de um projeto profissional comprometido com as lutas sociais necessárias à superação da sociabilidade capitalista. Gramsci é responsável por ressignificar o conceito de Estado e de sociedade civil, recriando um conceito que comporta a combinação entre sociedade política e sociedade civil, e que engloba tanto uma quanta outra dimensão, em permanente interação e interconexão. Este estudo, pautado em pesquisa documental e bibliográfica, com base no referencial teórico gramsciano, analisa os usos e as apropriações do conceito de Estado integral na produção recente do Serviço Social brasileiro. Neste sentido, e a partir dos dados coletados, foi possível constatar que o Serviço Social tem produção similar à área de História e só perde em número de teses e dissertações produzidas pela área de Educação. Para tal intento, foram selecionadas quatorze teses defendidas por assistentes sociais e disponíveis nos repositórios digitais dos programas de pós-graduação do Serviço Social brasileiro avaliados com nota a partir de 4 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação. As teses localizadas, e posteriormente selecionadas, foram produzidas entre os anos de 2006 e 2016, exclusivamente por assistentes sociais que utilizaram a categoria Estado integral como principal referencial teórico e/ou orientador do estudo elaborado. Buscou-se compreender como e quais leituras de Gramsci foram realizadas e até que ponto essas produções ainda conservam ou transcendem as discussões que marcaram a recepção de Gramsci no Brasil, e, especificamente, no Serviço Social, desde os anos de 1980, período constituído por formulações significativas de autoras(es) que compõem a historiografia profissional e que buscaram caminhos no pensamento de Gramsci para refletir sobre o Serviço Social e o trabalho do assistente social. Foi possível constatar que as teses analisadas, em maior ou menor grau, constituem produções que transcendem o contexto de origem italiano e possibilitam, através do uso do conceito de Estado integral, problematizar tanto a realidade nacional quanto as particularidades do Serviço Social brasileiro. Evidenciando elementos que fomentaram uma visão crítica da profissão e, consequentemente, o fortalecimento da constituição do projeto ético-político profissional. Desse modo, o encontro de Gramsci com contextos e culturas distintas dos de sua origem possibilitou não só a tarefa da tradução do marxismo pela periferia quanto a criação de novos projetos políticos às normativas trabalhistas e ao projeto profissional do Serviço Social brasileiro.