Turquia é um ator regional proeminente na Guerra Civil da Síria. Embora originalmente o seu envolvimento no conflito sírio buscasse a queda do regime de Bashar al-Assad, as operações militares turcas iniciadas em 2016 tiveram como alvo milícias curdas que vinham conseguindo conquistar um espaço autônomo próprio no norte sírio desde 2012. A Questão Curda implica em uma conexão transnacional entre a luta curda na Turquia e na Síria, por isso, será investigada neste artigo a sua relação com o envolvimento turco na guerra. A literatura empírica sobre conflitos intraestatais sugere que sistemas políticos que promovam exclusão étnica no acesso ao poder e que os elos transnacionais de natureza política-ideológica entre minorias étnicas causam, respectivamente, uma maior probabilidade de conflito e um maior risco disseminação do conflito para além de fronteiras nacionais. Isto é relevante porque na Turquia vigora um sistema excludente desde sua concepção como Estado-nacional, enquanto os grupos políticos curdos mais relevantes nestes dois países (PKK da Turquia e PYD da Síria) possuem uma conexão política-ideológica antagonizada pelo nacionalismo turco. As principais conclusões deste artigo sugerem que o governo Erdogan sofreu mudanças radicais na sua posição em relação a uma solução para a Questão Curda ao coloca-la como tópico de securitização à medida que enxergava a expansão do PYD no norte sírio como uma ameaça à segurança nacional da Turquia que poderia dar novas possibilidades à insurgência do PKK. Seu objetivo prioritário não seria mais a derrubada do regime, e sim a neutralização do PYD como ameaça.