o aborto é um dos temas mais polêmicos no âmbito da Bioética, pois envolve representações morais e religiosas que se espraiam desde o senso comum individual até os mais rígidos princípios do Direito, passando pelas biociências e chamando em causa os Filósofos e Filósofas como aliados para sustentação ética desta ou daquela posição. Colocando-nos fora e acima desta disputa, o nosso objetivo, com este texto, é levantar alguns questionamentos em torno dos pressupostos filosóficos que dão origem a uma concepção da vida, do corpo, do nascimento e da morte, a partir dos quais a questão do aborto pode (ou talvez deva) ser reavaliada. Apresentaremos, para esse fim, as idéias da filósofa feminista italiana Adriana Cavarero, que levam a perguntar se o aborto seja passível de "jurisdificação", ou não pertença a uma esfera do humano que escapa a qualquer normatização legal.