A sociedade brasileira é marcada por grandes desigualdades sociais e os investimentos em educação são apontados como importante estratégia para a transformação dessa realidade. A educação está na pauta de inúmeros programas sociais e frequentemente apresenta-se para as famílias de menor renda como um dos investimentos mais importantes a serem feitos nos filhos na busca de melhores oportunidades de trabalho e de ascensão social. Recentemente, houve grandes avanços nas políticas sociais de inclusão no ensino superior. Devido à ampliação do acesso às universidades brasileiras, cada vez mais os jovens de perfil socioeconômico filantrópico estão sendo inseridos no ensino superior. No presente estudo, foi investigada a percepção do jovem universitário de perfil filantrópico sobre o papel da família no seu projeto educacional por meio de uma pesquisa de campo exploratória com a realização de entrevistas com roteiro semiestruturado com oito alunos universitários de graduação, com perfil socioeconômico filantrópico. As entrevistas foram analisadas por meio do método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2011) e do discurso dos sujeitos emergiram sete categorias de análise: educação como valor familiar; influências no projeto educacional; o diploma da família; percepção dos jovens sobre programas sociais; obstáculos e desafios durante a graduação; rede de apoio como suporte e ampliação dos horizontes. Como resultados, destacou-se a forte influência dos valores transmitidos pelas famílias, especialmente do valor da educação, no delineamento de um projeto educacional e na consequente escolha pelo ingresso no ensino superior. Os dados sugerem que, apesar de o projeto educacional ser uma escolha autônoma e individual, as conquistas realizadas por esses jovens são sentidas como conquistas coletivas das famílias. Os programas sociais de inserção receberam avaliação positiva dos participantes, que apontaram ainda uma necessidade de expansão do acesso aos mesmos. Quanto às principais dificuldades ao longo da trajetória acadêmica, foram destacadas as longas distâncias entre residência e universidade, dificuldades na transição do ensino médio para o ensino superior e os custos de manutenção e permanência na universidade. Os dados indicaram que, no enfrentamento das dificuldades, os sujeitos contam com suas redes de apoio, incluindo pais, amigos e apoio institucional. A experiência de cursar o ensino superior traz ainda, além da formação acadêmica superior, alguns outros significados para os jovens, como a abertura de novos horizontes, retribuição para a família e o lugar de exemplo perante a comunidade de origem.