Na experiência religiosa afro-brasileira, a multiplicidade de Exu, nome que designa simultaneamente um ser e vários seres, indica que estamos diante de uma divindade cuja existência não se separa do conjunto de suas versões. Este artigo procura demonstrar que todas essas versões constituem a afirmação de um modo de existência que faz confluir a multiplicidade e a individuação. Exu pode ser várias coisas, mas não necessariamente ao mesmo tempo e da mesma maneira para todas as pessoas e para todas as práticas situadas nas mais diversas comunidades de terreiro em que ele está presente. Exu é virtualmente muitos, vários, mas a sua existência é sempre uma existência para alguém, para um lugar, para uma experiência. Na sua afirmação simultânea da pluralidade e da singularidade, a divindade subverte o dualismo racista que pretende submetê-la.