As modificações corporais abordadas nesta pesquisa incluem a aplicação de tatuagens, body piercing, implantes subdérmicos e quaisquer outros tipos de intervenções que envolvam procedimentos dolorosos que geram uma transformação corporal extrema, resultando no cobrimento de uma parte considerável ou até mesmo quase total da superfície corporal, que é realizada por razões não-médicas e que fogem dos padrões estéticos comumente vistos na sociedade. Na presente pesquisa objetivou-se refletir sobre a relação existente entre corpo e psiquismo, explorando as noções de sensorialidade, memórias corporais, vivências primárias do bebê e o papel do Outro na constituição psíquica e corporal do sujeito para uma melhor compreensão acerca do modo como o corpo é concebido e hiperinvestido na atualidade, sendo as práticas de modificações corporais um exemplo disso. As investigações teóricas apontam que a constituição psíquica e a percepção corporal desenvolvem-se paralelamente uma à outra e influenciam-se mutuamente, sendo o ambiente um fator de grande importância para o desenvolvimento subjetivo, corporal e psíquico da criança, o que acaba coincidindo com o modo como o corpo é concebido desde tempos longínquos até os dias atuais, dentro de uma perspectiva individual e também social, servindo como palco de representações psíquicas que se traduzem na maneira como o sujeito se expressa através de seu corpo, sendo as modificações corporais exemplos importantes desse fenômeno, uma vez que elas permitem que a plasticidade corporal seja explorada a ponto de gerar reflexões em torno de até onde se estendem os limites do corpo e da versatilidade comunicativa da qual a dimensão corporal se utiliza para se expressar simbolicamente.