Os estudantes que ingressam por meio da política de ação afirmativa encontram inúmeras e graves dificuldades para permanecer na universidade e concluir seus cursos. O acesso desses novos alunos deu ênfase às políticas de permanência e, a partir de então, a temática vem despertando um crescente interesse de pesquisadores que buscam conhecer e compreender os aspectos que perpassam a permanência universitária. A Universidade Federal do Rio de Janeiro teve a sua primeira experiência com a política de ação afirmativa para ingresso em seus cursos de graduação, em 2011, quase dez anos após ter se tornado realidade em outras instituições públicas. Especialmente a partir da Lei de Cotas, sancionada em 2012, houve o ingresso massivo de estudantes com um novo perfil, o que teve maior impacto nos cursos de alto prestígio, onde a maioria dos estudantes é oriunda das classes sociais mais altas. Desta forma, o presente estudo busca analisar as trajetórias universitárias de estudantes ingressantes pela ação afirmativa, em cursos de prestígio, a partir de suas percepções acerca do cotidiano universitário. Para atender aos objetivos da pesquisa entrevistamos o total de treze estudantes, que têm mantido uma trajetória improvável, na medida em que vêm sobrevivendo em um espaço onde a sua presença é pouco esperada. Os resultados empíricos demonstram que a permanência desses estudantes, embora permeada pelas dificuldades de ordem financeira, não está restrita a elas. As situações que se apresentam também se relacionam ao aspecto simbólico, que envolve a sua integração ao ambiente universitário e o pertencimento ao espaço e ao grupo. A questão da permanência, portanto, se amplia para além do provimento de recursos materiais, exigindo da universidade novas posturas e práticas.