Este trabalho se insere no campo de estudos sobre cursos pré-vestibulares populares. O objetivo é apresentar a constituição da história do Curso Pré-Vestibular PreparaNEM, a partir das perspectivas de participantes da primeira turma que ocorreu em 2015. Optou-se por uma metodologia qualitativa, em que foi realizado levantamento do referencial teórico e para a coleta de dados e informações, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com nove pessoas, dentre ex alunas, professoras, colaboradoras e a idealizadora do projeto. Foram consideradas duas principais categorias de análise: a categoria cursos pré vestibulares populares, entendida a partir da perspectiva dos autores Nascimento (2012) e Santos (2006) de que a atuação dos pré vestibulares populares possuem um lugar de movimento social, pois compreendem que para estes educandos não trata-se apenas de estudar para as provas de vestibular e sim do desenvolvimento da consciência das múltiplas desigualdades que permeiam a inserção de determinados sujeitos nas universidades; e a categoria Políticas de Ação Afirmativa, entendida na perspectiva de Gomes (2011) como políticas sociais de reconhecimento que atuam como medidas compensatórias destinadas a promover o princípio constitucional da igualdade em prol das populações em situação desigual. Os resultados deste estudo revelaram que o PreparaNEM destaca-se por ser um pré vestibular voltado para pessoas travestis e transexuais e possui características singulares, não apresentando coordenação estabelecida de forma hierárquica, priorizando o protagonismo das pessoas travestis e transexuais e não havendo sede fixa, desta forma as aulas transitam por espaços cedidos por outras organizações parceiras. Considera-se que a educação proposta pelo PreparaNEM contribui para o desenvolvimento da reflexão sobre educação e socialização das pessoas travestis e transexuais, o desenvolvimento da autonomia das educandas, a capacidade de resistência à expressa transfobia existente na sociedade e em particular nos espaços escolares e a construção de organização do grupo enquanto rede de afeto e solidariedade. Esses aspectos possibilitam caracterizar a iniciativa enquanto pioneira no segmento dos cursos pré-vestibulares populares, revelando que a importância dessa experiência perpassa a noção de cidadania, uma vez que a inserção de travestis e transexuais em universidades brasileiras as torna ‘personalidades emblemáticas’ e agentes ativas na construção de suas narrativas de vida.