Este trabalho tem por objetivo examinar os impactos da difusão da Internet sobre o campo da psicologia clínica e, em particular, sobre as práticas psicoterápicas da atualidade. Para tanto, é feita, inicialmente, uma discussão teórica sobre as transformações em curso no contexto de produção científica contemporâneo, à luz do recente desenvolvimento das tecnologias digitais e, em especial, da Internet. Em seguida, a discussão concentra-se especificamente no contexto da psicologia clínica, no recente interesse desta área pelo estudo dos impactos subjetivos da Internet e no exame da produção a este respeito. Dado que esta produção é composta quase que exclusivamente de pesquisas empíricas e não contempla os efeitos da Internet sobre as práticas clínicas, o trabalho de campo da presente tese visou investigar esta lacuna. Em outras palavras, foi realizada uma pesquisa qualitativa junto a 16 psicoterapeutas com o objetivo de conhecer o que estes têm a dizer sobre a chegada da Internet aos seus consultórios. Os principais resultados obtidos podem ser divididos em dois grupos. O primeiro diz respeito a indicadores clínicos que, da ótica dos terapeutas entrevistados, apontam para impactos subjetivos sofridos pelos pacientes-usuários da Rede. São eles: o prazer no uso da Internet, a sensação de onipotência que experimentam, as novas formas de se relacionarem com o corpo, as diferentes formas de excesso às quais se expõem e as novas formas de controle exercidas por meio dos registros que a Rede disponibiliza. Já o segundo grupo de resultados refere-se aos impactos da Internet sobre os próprios terapeutas, ou seja, às suas reações frente à chegada da Internet aos consultórios e à desorientação que experimentaram diante das novas questões clínicas colocadas em cena pelas aventuras on-line de seus pacientes.