Esta tese, mais que uma pesquisa sobre o Cântico das Criaturas, é o estudo sobre a mística de Francisco expressa em síntese poética. O texto dispõe de uma base adequada à mística contemporânea. A partir do viés hermenêutica, objetivado e proposto pelo pobre de Assis, entendemos ser possível oferecer uma contribuição relevante para a experiência mística, sob os impactos das interpelações que a realidade, com os embaraços da pós-modernidade tende esvaziar no ser humano. O objetivo é motivar a experiência mística do louvor com as criaturas e pelas criaturas, sem perder de vista o compromisso de salvaguarda e responsabilidade para com toda a criação e do direito à vida dos empobrecidos, sempre as primeiras vítimas entre as criaturas. Neste salmo místico, jubiloso, empolgado, a oração de Francisco reconciliado, harmônico entre o céu e a terra, com todas as criaturas convoca, provocando-nos à bondade matinal do paraíso: irmãos e irmãs com os seres da criação, resgatando a dimensão do sagrado presente nas criaturas. A mística de Francisco em sinopse: louvor genuíno, pura vibração. Aurora no crepúsculo da vida. Um transbordamento de espírito voltado para o alto (doxa) e para baixo (kénosis). É a vibração mística cosmológica que integra o ser humano à fraternidade universal do Reino de Deus antecipado em seus sinais. O ser humano, imagem de Deus, ocupa um lugar especial na criação e, como imagem do Altíssimo, Onipotente, Bom Senhor é chamado a responder pela própria vida, pelas relações inter-humanas e pela natureza, diante do Criador. Ouvir, recitar e rezar o Cântico é uma experiência geratriz e reencontro, sobretudo com o que de mais humano teimosamente insiste morar em nós. Encontro místico com necessidades arque típicas e arcaicas, fraternidade fervorosa e compromisso incansável com todas as criaturas e com o Criador.