Este estudo analisa a trajetória do intelectual brasileiro Alceu Amoroso Lima (1893-1983), considerado o mais importante líder do laicato nacional do século XX. A discussão tem início na primeira metade dos anos 50, quando toma corpo importante mudança de registro eclesial operada por Amoroso Lima. Transformação que o faz passar de um modelo de catolicismo tridentino, que reagia à modernidade, a outro mais aberto, plural, em diálogo com o século. Processo de mudança já perceptível em dois relatos de viagem que Amoroso Lima realizou neste período. Relatos que, ritualizando a idéia cristã da vida como peregrinação ao Alto, permitiram a seu autor chancelar os câmbios experimentados a partir de um plano teleológico. A discussão segue com a análise de conceito mais abstrato de peregrinação, aquela que conduziria ao interior do homem, tomado como local de encontro entre o fiel e Deus. Transposta ao universo de Amoroso Lima, tal viagem interior permitiu que este forjasse uma auto-disciplina, tributária de elementos clássicos, anteriores ao cristianismo, e também de espiritualidades cristãs variadas. Assim, voltando-se para seu mundo interior, Amoroso Lima buscava, ao mesmo tempo, unir-se ao divino e controlar os riscos decorrentes do processo de transformação que então vivenciava. Exercício de introspecção que marcou profundamente a maneira como Amoroso Lima experimentou a fé no cotidiano, influenciando também sua ação no mundo exterior. E, assim, retorna-se ao mundo exterior: tendo acompanhado a mudança operada por Amoroso Lima em seu modelo de catolicismo, são analisados os reflexos de tal movimento na forma com que este intelectual passou a intervir no século. Intervenção caracterizada, sobretudo, pelas colunas mantidas por Amoroso Lima na grande imprensa e que deram notável projeção a sua voz no cenário político brasileiro, especialmente após o golpe militar de 1964. Assim, procurou-se demonstrar que tais colunas - onde prevalecia o tom crítico com relação ao governo militar - contribuíram para consolidar a imagem de Amoroso Lima como um católico progressista, sintonizado com o aggiornamento que a Igreja realizava a partir dos anos sessenta. Imagem muito diversa daquela do cruzado da neocristandade, associada a Amoroso Lima nas duas primeiras décadas de sua caminhada católica. Contraste focalizado na última seção do texto, com a discussão das diferentes memórias que são associadas a Amoroso Lima e de como, também a partir de determinada obra memorialística, ele tentou legitimar, pela fé, suas mudanças.