O presente estudo tem como objetivo pensar as práticas de cuidado com a alimentação articulando-as ao contexto político-subjetivo atual, o que inclui alguns impasses que se apresentam à clínica. Para tanto, tem como plano de sustentação teórico-metodológico as contribuições de Michel Foucault, sobretudo acerca da história genealógica. Parte do cenário na contemporaneidade para problematizar os imperativos de vida saudável e seus efeitos nos modos de relacionar-se com a comida. Afirmando a perspectiva desnaturalizadora da história, apresenta as formas de preocupar-se com a saúde e a alimentação a partir do final do século XVIII para, em seguida, discutir tais formas diante das práticas normativas e de controle social vigentes, bem como o aumento de modos de padecimento relacionados à alimentação, destacando a ortorexia. A noção de cuidado de si, à luz do tema da ética, presente nos estudos de Foucault participa igualmente desta construção teórica, pois ajuda a pôr em questão o modelo de gestão de si de nossa época. Por fim, tentando escapar de um modo de pensar marcado por reducionismos e dicotomias, os conceitos de saúde e patologia são colocados em análise com base na obra de Georges Canguilhem. Na mesma direção, as ideias de transicionalidade e de paradoxo propostas por Donald Winnicott auxiliam a conceber a relação com a alimentação de modo mais fluido e arejado, apostando em um viver criativo e potente. É com base nessas articulações clínico-políticas que este trabalho se posiciona e busca propor ferramentas de problematização acerca dos cuidados com a alimentação na contemporaneidade.