A adaptação adequada e sensível da mãe às necessidades do bebê, além do fornecimento de um ambiente suficientemente bom oferecido por suas funções maternas, favorece, de acordo com Winnicott, a integração do ego no início do desenvolvimento emocional da criança. No entanto, falhas ambientais como a inconstância e a imprevisibilidade dos cuidados maternos, podem causar a ruptura do sentimento de continuidade de ser. Este trabalho tem por objetivo analisar como ocorre a constituição psíquica de uma criança que vivenciou dois momentos que consideramos traumáticos: o primeiro relativo à imprevisibilidade e inconstância dos cuidados maternos vivenciados enquanto bebê, período em que ainda não possuía a capacidade de simbolização; e o segundo relacionado ao desmentido da história da criança e à confusão de línguas causada pelos adultos que não sustentaram o incômodo desta história. A partir da relação transferencial em análise, a criança teve a oportunidade de revisitar sua história inicial, favorecendo assim a obtenção de condições psíquicas para que possa vivenciar a expressão do seu verdadeiro self.