Este trabalho busca apresentar uma compreensão mais aprofundada da relação entre mídia e transformação social na sociedade contemporânea, propondo, para tanto, uma articulação entre a Análise Crítica do Discurso e a Sociolinguística Interacional na análise do processo de construção de identidade em narrativa de um indivíduo reconhecido como porta-voz de movimentos sociais, em sua participação em uma interação midiática. Os dados da análise são narrativas pessoais encaixadas em argumentos materializadas na participação no programa televisivo Câmara Ligada, veiculado pela TV Câmara, de um dos representantes do movimento Hip Hop no Brasil, o rapper MV Bill - também fundador da Central Única das Favelas (CUFA), escritor e cineasta, nacional e internacionalmente reconhecido por sua luta por transformações sociais, especialmente as relacionadas às diferenças sócioeconômicas, ao preconceito racial e à violência urbana. Com base no método tridimensional para uma análise crítico-discursiva proposto por Fairclough e adotando uma perspectiva flexível do modelo de narrativa laboviano, a análise dos dados se desenvolve em três níveis considerando, para tanto, as alternâncias pronominais; recorrendo às noções de estrutura de participação e formato de produção, de Goffman, bem como aos conceitos de enquadre, de Bateson e Goffman, e de alinhamento, de Goffman, e ao conceito de resistência na narrativização das estruturas sociais conforme proposto por Edwick e Silbey. A análise dos dados identifica as diferentes identidades que MV Bill constrói em narrativas articuladas a argumentos que mobiliza na defesa de sua opinião diante de questões que se referem à relação entre a mídia e as desigualdades sociais; à violência urbana; às mobilizações sociais e aos preconceitos social e racial. Ao mostrar como, situadas em uma interação midiática, essas identidades são narrativamente construídas em argumentos, a análise ressalta as estratégias discursivas mobilizadas para a ocupação do espaço e da agenda midiática por um líder portador da voz da resistência pela transformação social, contribuindo para a compreensão crítica e consciente da importância da mídia (e dos que nela atuam) para o estabelecimento, manutenção e/ou transformação das condições sociais excludentes no atual contexto de profunda redefinição de conceitos e valores que caracterizam o momento histórico do qual estamos participando.