As mudanças observadas na sociedade a partir da entrada das mulheres no mercado de trabalho levaram o modelo de família tradicional e as relações de gênero a serem questionados. Devido à redução do número de filhos propiciada pelo avanço dos métodos de contracepção e ao aumento da escolaridade feminina, a mulher atual pode se dedicar à vida profissional e obter sucesso nas mais diversas áreas. Possuir uma carreira tornou-se um valor importante para a mulher contemporânea. No entanto, a despeito destas mudanças, ainda hoje as mulheres tendem a assumir uma maior parcela de responsabilidade no que diz respeito aos cuidados com os filhos, já que a maternidade permanece sendo vista como prioritária na vida de uma mulher. As dificuldades envolvidas na conciliação entre maternidade e trabalho, sobretudo nos primeiros anos de vida dos filhos, têm levado muitas mulheres a abandonar até mesmo carreiras bem-sucedidas, fruto de dedicação e investimento, para se voltar exclusivamente aos cuidados com a prole. Com o objetivo de investigar as motivações, sentimentos e expectativas envolvidos nesta decisão, realizamos um estudo de campo com oito mulheres das camadas médias, com filhos pequenos, que fizeram esta opção. Da análise do discurso das entrevistas emergiram sete categorias, que configuraram os temas primordiais dos relatos das participantes, envolvendo o foco na vida profissional, a mudança dos objetivos de vida após a maternidade, a valorização da presença da mãe na vida dos filhos, a avaliação da convivência com os filhos, o apoio do cônjuge, o retorno ao trabalho relacionado a uma cobrança social, e a importância do tempo livre. Nossos resultados apontam principalmente para um retorno de valores tradicionais, menos individualistas, além da revalorização da vida privada como meio de transformar o mundo do trabalho.