Esta tese busca compreender o papel da resistência não violenta conjunta entre israelenses e palestinos. Vivendo territorialmente muito próximos e inseridos em um ciclo de violência complexo e de longa data, estes grupos têm suas experiências de vida usualmente pautadas em uma lógica de inimizade profunda e enraizada há gerações, uma vez que ambos existem e se relacionam através da dinâmica da ocupação militar israelense na Palestina. Esta realidade resulta em uma relação permeada por experiências de violência reais vividas pelos dois grupos, comumente associadas ao outro, resultando em muito medo, raiva e preconceito entre as partes. Nas últimas duas décadas, o conflito entre Israel e Palestina vem experienciando uma intensificação ainda maior e constante da violência. Simultaneamente, no entanto, movimentos de resistência não violentos de atuação conjunta entre palestinos e israelenses vêm crescendo na região. Buscando compreender o papel da não violência neste contexto de aprofundamento da violência, a tese em questão pesquisou dois movimentos de resistência não violenta de atuação conjunta - o Combatants for Peace e o Parents Circle Families Forum - acompanhando de forma remota e analisando suas atividades, projetos, depoimentos de seus ativistas, relatórios e outras documentações. Ao longo do processo, foi compreendido que a não violência conjunta entre israelenses e palestinos dá origem a um novo sujeito resistente, que na pesquisa é referido como sujeito pacificador. Compreendendo este contexto complexo no qual estão inseridos, o trabalho analisou a criatividade desenvolvida pelo sujeito pacificador para que um movimento conjunto possa existir, se desenvolver e, inclusive, se expandir, em um sistema que não é favorável à sua existência ou sobrevivência. Através da discussão conceitual dos termos violência, resistência e resistência não violenta e da análise nas fontes, a tese argumenta que o papel da não violência conjunta entre israelenses e palestinos no contexto de constante intensificação da violência tem sido o de produzir uma imaginação moral - como pensada por John Paul Lederach - que cria modelos de reconciliação e parceria, e abre espaço para a visualização de um futuro de paz possível entre Israel e Palestina.