Esta dissertação investigou a compreensão multimodal de constelações texto-gráfico, em que gráficos representam, ilustram ou complementam conteúdos textuais. A pesquisa, inserida na Psicolinguística e na Psicologia Cognitiva, baseia- se na concepção de Letramento Estatístico de Gal (2002), na teoria de compreensão de gráficos de Pinker (1980), e em estudos sobre integração texto-gráfico, como os de Acartürk (2009), Rodrigues (2020), Almeida (2019) e Schnotz (2014). Participaram alunos de graduação e pós-graduação, maiores de 18 anos, falantes nativos de português brasileiro. Buscou-se identificar fatores que representam custo na integração entre informação linguística e visual. Dois experimentos foram conduzidos, manipulando fatores bottom-up e top-down. O primeiro utilizou uma tarefa off-line de seleção de imagem, focalizando a relação entre a natureza da variável no eixo horizontal do gráfico (contínua ou discreta) e o tipo de frase no título (frase de tendência ou pontual), investigando como esses fatores influenciam a escolha do gráfico (linha ou colunas). A hipótese previa preferência por gráficos de colunas na condição congruente DP (variável discreta mais frase pontual) e por gráficos de linha na condição CT (contínua mais tendência), e ausência de preferência nas incongruentes (DT e CP). Os resultados mostraram preferência clara por colunas apenas em DP. Em CT, houve tendência por gráficos de linha, sem significância estatística. Supõe-se que algumas variáveis contínuas no eixo x podem ter sido percebidas como categorias, influenciando a escolha dos participantes. O número reduzido de pontos (três) pode ter favorecido essa leitura. Em CP, as médias para colunas e linha ficaram muito próximas, indicando competição. Em DT, observou-se preferência significativa por colunas, o que não era esperado. Nessa condição, o verbo variar foi usado em todas as frases. Embora remeta a ideia de tendência, pode também expressar diferenças pontuais. Assim, com eixo x discreto, os participantes pareceram adotar essa segunda leitura, revelando o impacto da informação visual na interpretação linguística. O segundo experimento empregou rastreamento ocular (eye tracking) para examinar se a presença, no texto, de uma frase que explicita informação do gráfico (frase-crítica) afeta a leitura e compreensão multimodal. O gráfico era apresentado ao lado do texto (à direita ou esquerda), com duas áreas de interesse (texto e gráfico). As variáveis dependentes incluíram medidas oculares (como número e duração de fixações, percentual de visitas) e taxa de acerto em perguntas de compreensão. Esperava-se que a frase crítica facilitasse a integração verbal-visual. Houve diferença significativa entre áreas para tempo total e número de fixações, com valores mais altos no texto, mas não para a duração média ou proporção de visitas, sugerindo que o resultado se deve ao maior volume textual. A taxa de acerto foi alta, com diferença significativa em perguntas focadas apenas no gráfico: a condição sem frase crítica teve desempenho superior, sugerindo inspeção mais completa do gráfico quando não havia direcionamento. Também foi observada maior atenção à área à esquerda, independentemente de ser texto ou gráfico, possivelmente devido à direcionalidade da leitura ocidental. Os resultados apontam para a complexa interação entre informações bottom-up e top-down na compreensão de constelações texto-gráfico.