O presente trabalho visa analisar a dependência emocional desenvolvida por mulheres que passaram por um relacionamento abusivo, compreendendo como essa dependência parte de uma visão duplo-vincular do relacionamento. Busca-se, desta ótica, entender a lógica subjacente a aspectos como: as mensagens paradoxais enviadas pelo abusador, as manipulações, a proibição do convívio social de amigos e familiares, o julgamento da sociedade, etc. Mais especificamente, por meio de um breve estudo de caso exploratório, buscase uma melhor compreensão e ilustração de como esses aspectos contribuem para que a mulher desenvolva a dependência emocional para com seu parceiro abusivo e quais os impactos psicológicos percebidos. Com a realização de três entrevistas com uma mulher de trinta e sete anos, que relata ter vivido em um relacionamento abusivo durante aproximadamente 20 anos, discutimos como principais categorias de análise: o isolamento da mulher de sua família, com causalidade em parte atribuída ao agressor e em parte pela desistência da família em ajudar a vítima e presenciar abusos; a violência psicológica e as mensagens paradoxais, geradoras de diversas crenças nucleares na vítima, dificultando a saída da mesma de outros relacionamentos também percebidos como abusivos; o fato de a violência doméstica ser extremamente sensível a contexto, em particular, no caso em questão, à vulnerabilidade social, e à influência do modelo parental da vítima refletida nas relações amorosas da mesma. A importância da rede de apoio e alguns caminhos de reconstrução da ideia de família como locus de afeto são também discutidos.